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terça-feira, 14 de setembro de 2010

NECROFILIA

Apaixonar-se pela vida é desumano. Em vez de ter um querer pelo que está, tenho pelo que morreu. Esse é um eterno companheiro, como a lei da gravidade, puxa pra baixo, e cria músculos, cria osso, cria o pensamento de levantar. É um efeito inverso do que quero. Levantar pela manhã é um desastre, cambaleio, vejo que tem um sol que não respeita essa lei. Vejo que há luz, não sei se é pra todos. Tem dia para estrelas, ficção científica ou eclipse. Dia cinza é comum até durante a noite. Cores mudas. Timbres que vêm daquela cor enferrujada que o desgosto deixa. Das cordas que estavam para arrebentar, e ficaram sem serem usadas. Do fio que ficou intacto na agulha do palheiro.
O astro rei é frio. Tanto que brilha, cega e queima. Reina e tem seu modo egocêntrico de administrar as leis, sem precisar ser demagogo. Debaixo do sol, há o milagre da vida. Tem um detalhe: eu vejo tudo isso. Arte, beleza, sentimento. Quando quiser, posso acabar com tudo. O que me segura nesse mundo é essa lacuna, essa morte, essa indignação que tenho de tentar entender porque ainda fico aqui.

Dennn

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